Paraty, situada entre o mar e as montanhas da Serra do Mar, carrega uma história rica e vibrante, que começa antes mesmo da chegada dos europeus. A região era habitada pelos indígenas Guaianás, que abriram a trilha conhecida como Caminho dos Goianás, conectando o litoral ao Vale do Paraíba. Esse caminho seria fundamental para o desenvolvimento da região nos séculos seguintes. O primeiro relato sobre Paraty que se tem registro é do mercenário alemão Hans Staden, que, em 1557, relatou suas experiências entre os Tupinambás em seu livro “História verdadeira e descrição de um país de selvagens…”, após passar quase um ano em cativeiro na área entre Paraty e Angra dos Reis.
Início do Povoamento e Primeiras Construções
O povoamento da região começou a se firmar com a chegada da expedição de Martim Correia de Sá em 1597. O núcleo inicial do povoado surgiu no atual Morro do Forte, próximo ao rio Perequê-Açu, onde os colonizadores ergueram a primeira construção de que se tem notícia: uma capela dedicada a São Roque, o primeiro padroeiro local. Em 1636, Maria Jácome de Melo doou uma sesmaria entre os rios Perequê-Açu e Patitiba, com a condição de que os indígenas não fossem molestados e de que uma nova capela fosse construída, agora sob a invocação de Nossa Senhora dos Remédios, que se tornaria a padroeira definitiva da vila.
Emancipação e Expansão da Vila
A crescente importância econômica e estratégica de Paraty levou seus habitantes a buscar a independência da vila em relação a Angra dos Reis. Em 1670, depois de um levante liderado por Domingos Gonçalves de Abreu, Paraty foi elevada oficialmente à categoria de vila. Em 1677, por Carta Régia, recebeu o nome oficial de “Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty” e se consolidou como uma comunidade com certa autonomia administrativa e social. Em meados do século XVII, Paraty já contava com uma igreja matriz, ruas pavimentadas e uma economia estruturada.
O Ciclo do Ouro e o Caminho do Ouro
O descobrimento de ouro nas Minas Gerais trouxe um impulso econômico e transformou Paraty em um ponto estratégico da Estrada Real. Em 1702, o governador da capitania do Rio de Janeiro determinou que todas as mercadorias destinadas às Minas deveriam passar pelo Rio de Janeiro e seguir por Paraty, utilizando a antiga trilha indígena, agora pavimentada com pedras irregulares, conhecida como Caminho do Ouro. Esse caminho movimentou intensamente o porto de Paraty, que viu seu comércio e população crescerem.
No entanto, em 1710, o governo proibiu o transporte de ouro pela estrada de Paraty, o que causou grande descontentamento. Após revoltas locais, a medida foi temporariamente suspensa, mas com a construção do Caminho Novo, uma estrada mais direta entre o Rio de Janeiro e as Minas Gerais, Paraty começou a perder relevância como rota comercial, iniciando um ciclo de declínio econômico.
A Economia da Cana-de-Açúcar e a Produção de Cachaça
Durante o século XVIII, Paraty se destacou como centro produtor de cana-de-açúcar e tornou-se famosa por sua cachaça artesanal. Com cerca de 250 engenhos em operação no auge da produção, Paraty se consolidou como referência na produção da bebida, a ponto de o termo “parati” se tornar sinônimo de cachaça em todo o Brasil. Esse período foi economicamente próspero para a vila, que se orgulhava de sua produção única e de qualidade.
Século XIX e o Ciclo do Café
No século XIX, com a expansão do café no Vale do Paraíba, Paraty ganhou novo fôlego. No entanto, para escapar das leis de proibição do tráfico de escravos, a cidade passou a ser usada como ponto de entrada clandestina de africanos. Com o café e o tráfico de escravos, as antigas rotas do ouro passaram a servir a uma nova economia. Em 1844, o imperador Dom Pedro II elevou a vila à condição de cidade, dando um novo impulso ao seu status na região.
Porém, a inauguração da ferrovia em Barra do Piraí, em 1864, desviou as rotas comerciais, e Paraty entrou novamente em declínio. Essa situação se agravou, resultando em um longo período de isolamento que duraria quase um século.
Renascimento com o Ciclo do Turismo
A redescoberta de Paraty ocorreu em meados do século XX, quando seu valor histórico e arquitetônico começou a ser valorizado. Em 1958, seu Centro Histórico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A abertura da estrada Paraty-Cunha, em 1964, e da rodovia Rio-Santos, em 1973, facilitaram o acesso à cidade, marcando o início do ciclo do turismo. Paraty se tornou um polo cultural e turístico, atraindo visitantes de todo o mundo.
Em 1980, grupos indígenas Guarani Mbya vindos do sul do Brasil se instalaram na região, formando as aldeias Araponga e Paratimirim, reforçando a presença indígena que faz parte da história da cidade. Em 2019, Paraty e Ilha Grande foram reconhecidas como Patrimônio Mundial pela UNESCO, consolidando a cidade como um dos destinos culturais e turísticos mais importantes do Brasil.
Cronologia de Paraty
1531 – provável passagem de Martim Afonso de Sousa
1551 – o mercenário alemão Hans Staden permanece por nove meses prisioneiro dos índios tupinambás na região do atual município de Parati
1596 – passagem de Martim Correia de Sá
1600 – chegada de colonos oriundos da capitania de São Vicente
1640 – mudança para o rócio (atual Centro Histórico)
1646 – edificação da primitiva Igreja de Nossa Senhora dos Remédios
1660 – levante de Domingos Gonçalves de Abreu que conduziu à emancipação
1667 – Carta Régia confirmando a elevação a vila
1668 – reedificação da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios
1703 – porto de escoamento do ouro que descia pela Estrada Real
1712 – término da construção da segunda capela de Nossa Senhora dos Remédios, de pedra e cal.
1720 – a Vila Nossa Senhora dos Remédios é anexada à Capitania de São Paulo;
1720 – construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Paraty-Mirim)
1722 – construção da Igreja de Santa Rita de Cássia
1725 – construção da Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário
1726 – (16 de janeiro) – Carta Régia separa Paraty da Capitania de São Paulo, voltando a pertencer à Capitania do Rio de Janeiro.
1787 – terceira reedificação da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios
1800 – construção da Capela de Nossa Senhora das Dores.
1813 – instituição do condado de Parati. Foi 1° Conde de Paraty D. Miguel Rafael António do Carmo de Noronha Abranches Castelo Branco.
1822 – fundação da Santa Casa de Misericórdia de Paraty.
1844 – elevação a cidade de Paraty.
1851 – construção do Chafariz do Pedreira
1945 – classificação como Patrimônio Histórico Estadual.
1950 – chegada do primeiro automóvel a Paraty, através da estrada Paraty-Cunha: são os primeiros turistas paulistas.
1954 – abertura de estrada ligando a cidade ao Vale do Paraíba.
1958 – tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
1966 – classificação como Monumento Nacional
1973 – abertura da Rodovia Rio-Santos e início do ciclo do turismo em Paraty.
1980 – chegada de índios guaranis embiás, que fundam as aldeias de Araponga e Paratimirim.”
Hoje, Paraty é um importante destino turístico e cultural, sendo reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial em 2019. Com suas paisagens históricas e naturais, festivais e rica produção cultural, Paraty brilha na Costa Verde como um elo vivo entre o passado colonial e as tradições brasileiras contemporâneas.
Distâncias Rodoviárias |
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Rio de Janeiro | 236 km |
São Paulo | 330 km |
Cunha | 47 km |
Ubatuba | 72 km |
Angra dos Reis | 100 km |
Rio Claro | 116 km |
Mangaratiba | 141 km |
Dados sobre Paraty |
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Área | 928 Km2 |
Altitude | 5 Metros |
População | 44872 (censo de 2022) |
Limites Geográficos |
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Norte | Angra dos Reis |
Sul | Ubatuba |
Oeste | Cunha |