Paraty – Patrimônio da humanidade. VaiParaty entrevista Cristina Maseda para saber os principais benefícios e responsabilidades que este título tão importante traz para a cidade!

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Vista área da Igreja de Santa Rita

Cristina Maseda é secretaria de Cultura desde 2014, e junto com sua equipe, foi uma das grandes protagonistas na conquista do título de Patrimônio da Humanidade, obtido recentemente. Fui bater um papo para ela para saber como foi essa conquista, mas também, para saber quais são os principais benefícios e responsabilidades que ela traz para Paraty!

VaiParaty: O que foi preciso fazer pra que Paraty pudesse se candidatar a esse título?
Cristina Maseda:  Paraty já vinha tentando o título há algum tempo, mas ainda não tinha conseguido ter sua candidatura aceita pela Unesco. A última tentativa foi em 2009, quando Paraty apresentou uma candidatura cultural, Paraty e o Caminho do Ouro, que não foi aceito pela UNESCO e a Unesco sugeriu que fosse reformulada para sítio misto alterando o objeto, para incluir também a parte ambiental.

A partir de então a candidatura foi repensada, porque a candidatura não é levada adiante unicamente pelo município, e sim em parceria com o governo federal. Então, reformulou-se a candidatura, e buscamos novas parcerias institucionais.

VaiParaty: Quando a Ilha grande passou a fazer parte do projeto?
Cristina Maseda: Justamente na reformulação da candidatura, incluiu-se também toda as duas reservas ecológicas da Ilha Grande. A partir de 2014, quando acompanhei o processo mais de perto, essa reformulação ainda estava se iniciando, e uma das articulações políticas que foram fundamentais foi feita pelo ex-prefeito Casé, junto ao governo federal. Diferentemente da candidatura à Cidade Criativa, a candidatura a Patrimônio Mundial precisa ser feita pelo governo brasileiro, então não adianta haver simplesmente o interesse do município, ela tem que ser feita em parceria com o governo federal, e isso exige uma articulação política complexa que foi muito bem realizada por Casé.

Nesse momento o Casé conseguiu o apoio do Governo Federal e articulou parceiros. Algumas instituições já apoiavam o projeto, mas entraram ainda com mais força nesse momento. Também houve a integração do Ministério de Meio Ambiente e do ICMBIO, para a elaboração da parte ambiental. Neste momento começou a se desenhar a candidatura para valer! Houve ainda a contração de 2 consultores, um da parte cultural e um da parte ambiental, para poder reformular a candidatura, unindo o patrimônio material e imaterial, integrando todo esse sistema cultural, que envolve ainda o patrimônio arqueológico de Paraty, com vestígios de mais de 4 mil anos de ocupação, além da parte ambiental.

Claro que não é possível colocar apenas um pedaço do Parque da Bocaina, a área em que está localizado o município de Paraty. Essa foi uma questão muito discutida, porque havia uma tendência a querer que a candidatura englobasse apenas o município de Paraty. Entretanto a parte ambiental não respeita limites políticos, e precisava englobar todo o conjunto, que é excepcional! Neste caso, quem fecha a baía da Ilha Grande e torna as 2 reservas uma área exepcional são a Apa do Cairuçu, e o Parque da Serra da Bocaína, que formam esse grande anfiteatro nacional.

VaiParaty: Na minha percepção de leigo, o fato do título ser de 2 municípios em conjunto, deve estimular ainda mais as parcerias entre as 2 localidades como destinos turísticos, ao invés de fomentar a rixa que existe atualmente entre os 2 municípios. O que você acha?
Cristina Maseda:  É uma oportunidade muito importante para os municípios pensarem conjuntamente como destino. É muito mais interessante você pensar o destino de forma conjunta, onde você tenha uma permanência maior, e causará um maior interesse no turista, especialmente o turista internacional que não vem pra ficar apenas dois dias. O título deve ajudar inclusive a capital do Rio de Janeiro, atraindo um número maior de turistas. Com isso abrem-se muitas oportunidades, tanto na área cultural, quanto ambiental, tendo o turismo como indutor importante.

VaiParaty: Houve alguma dificuldade marcante durante o projeto?
Cristina Maseda: Foi muito decisiva a missão da Unesco que nós recebemos em setembro do ano passado, onde os avaliadores ficaram aqui durante 8 dias, um avaliador da UCN, que cuidou da parte ambiental, e um avaliador da ICOMOS, que ficou responsável por avaliar a parte cultural.

Todas as instituições envolvidas participaram dessa parte do processo, incluindo o Iphan, ICMBIO, INEA, Ministério do Meio Ambiente, Prefeitura de Angra e Prefeitura de Paraty, IHAP e Forum das Comunidades Tradicionais. Organizar essa agenda e fazer a operacionalização dela foi uma tarefa bastante complexa e creio portanto que tenha sido um momento muito decisivo! Outro momento muito importante foi a reta final, onde houve um protagonismo muito grande da prefeitura, com a preparação de todo material que compôs um kit maravilhoso entregue aos avaliadores.

Todo esse material foi elaborado pela prefeitura de Paraty em parceria colaborativa do ICMBIO, e em todo esse material, procuramos valorizar as comunidades tradicionais e todo esse patrimônio cultural de Paraty. Quando falo em comunidades tradicionais, me refiro não apenas aos quilombolas, caiçaras e indígenas.

Então, foi uma grande homenagem onde a Prefeitura se posicionou muito bem, com um profundo respeito e admiração, e que a gente tem esse objetivo sempre em pauta da valorização da cultura local. Tudo foi feito com muito carinho e houve um investimento de recursos importante por parte da prefeitura!

Todo o processo foi de muito trabalho, com muitas reuniões, muitos grupos de trabalho, muitas pessoas participando, onde as pessoas envolvidas participaram ativamente de todos os processos, com a liderança da Secretaria de Cultura em várias ações importantes, porque julgávamos esse título como uma prioridade absoluta.

VaiParaty: Gostaria de saber quais benefícios para a cidade este título pode trazer, e o que é preciso fazermos daqui em diante para poder ser beneficados ao máximo por ele.
Cristina Maseda: Antes de mais nada, é preciso entender que ganhar um título como esse, não é qualquer lugar que ganha. A gente hoje está hoje numa lista muito seleta de lugares exepcionais no mundo, uma lista que tinha até então 1092 patrimônios mundiais, e apenas 32 patrimônios mistos – somos o trigésimo terceiro. Isso deve trazer uma visibilidade enorme, não apenas no sentido do turismo, mas também fomentando pesquisas e outros investimentos. Obviamente, estar numa lista de patrimônios mundiais, traz bastante visibilidade também para o turismo, uma vez que há muitos turistas que buscam conhecer justamente estes lugares listados por serem tão especiais.

O título traz ainda oportunidades importantes para o município pautar seu desenvolvimento, e é um desenvolvimento que deve ser focado no desenvolvimento sustentável, até porque é isso que está previsto nessa candidatura. Então além da admiração que o título traz, ele traz também uma cobrança nesse sentido. E para que essa candidatura se tornasse de fato um título, houve um compromisso de todas as instituições envolvidas em relação a um plano de gestão integrada.

Esse plano já prevê uma integração completa na gestão em vários níveis de governo, e também contou com a participação da sociedade civil em sua elaboração. Ele prevê, por exemplo, várias ações integradas em curto, médio e longo prazo, desde infra-estrutura até turismo de qualidade. Não se trata apenas de receber muitos turistas, mas de como eles serão recebidos.

Uma das cobranças deve ser a conclusão do tratamento do esgoto na cidade, tanto da estação de tratamento de esgotos que atenderá a região central, quando na implantação de biodigestores e outras soluções em comunidades mais afastadas. Esta obra da estação é um compromisso complicado para o município assumir sozinho, pois envolve custos altíssimos de investimento. Este título cria também uma oportunidade dessa questão ser abordada com um interesse maior também pelo estado e pela federação, e não apenas pelo município.

VaiParaty: Existe uma auditoria contínua para quem recebe o título de Patrimônio da Humanidade?
Cristina Maseda: – Sim, existe uma auditoria contínua! A cada 4 anos é o título é reavaliado, e se as metas não estiverem sendo cumpridas é possível entrar numa lista de risco, ou até perder o título! Do ponto de vista nacional e internacional, Paraty agora terá acesso à varios fundos nacionais e internacionais, para conseguir recursos para concluir projetos estratégicos de infraestrutura.

Outra ação prioritária, é na área de educação para jovens, e envolve a criação da escola técnica. Há ainda várias outras questões sobre como proteger o meio ambiente com o aumento do turismo, e é preciso fazer estudos de capacidade de carga e suporte. Também há bastante foco no turismo de base comunitária nesse plano de gestão.

É preciso se pensar nesse planejamento integrado nas questões ligadas ao turismo, pois o título pode alavancar bastante o nome da cidade diante da comunidade nacional e especialmente da comunidade internacional. Já houve no InvestTurismo o interesse manifestado de fazer uma promoção casada entre a cidade do Rio de Janeiro e Paraty, por exemplo.

Também é muito importante que haja uma gestão de recursos financeiros tecnicamente muito bem feita na cidade. É preciso ter projetos, e ter projetos significa muito mais do que apenas ter idéias. É preciso correr atrás, e ter um projeto muito bem elaborado, com um conceito muito efetivo e um plano de sustentabilidade para poder acessar esses fundos.

Mais um dos compromissos assumidos é o Museu de Paraty, que será localizado onde ficava a antiga Santa Casa da cidade. Este edifício é o único prédio além das igrejas que tem um tombamento específico, e lá deve ser implantado o museu histórico de Paraty, onde estudantes e turistas poderão aprender sobre todo esse patrimônio. O convênio para a implantação deste museu já está assinado junto ao Iphan.

Já em outubro teremos uma reunião da presidente do Iphan com as cidades que são patrimônio mundial no Brasil, onde já se efetivou um programa do Iphan com o Ministério do Turismo, onde há recursos exclusivos para cidades que são Patrimônio mundial. Cristina completa afirmando que hoje a Secretaria de Cultura é muito bem aparelhada tecnicamente para ir em busca desses recursos.

Encerro agradecendo à Secretaria de Cultura Cristina Maseda pela entrevista e parabenizo ela e toda a sua equipe pela importante conquista!

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Guido Nietmann

Há 11 anos morando em Paraty, Guido Nietmann é fotógrafo, artista visual, curador, organizador de eventos e webmaster. Em parceria com a fotógrafa Roberta Pisco, criou a Fotos Incríveis, empresa especializada em fotografia comercial, o Fotoclube Paraty e também é o responsável pela criação do Projeto Eu Amo Paraty. Guido também é um dos criadores do Festival FocoOFF, que expôs o trabalho de mais de 150 artistas em sua última edição. Apaixonado por Paraty, ama retratar as pessoas e as belezas da cidade, e seu cantinho preferido é a praça da Igreja de Santa Rita! Seu trabalho pode ser encontrado no livro Paraty e Ilha Grande, no livro Paraty - Cidade da Gente e em muitas outras publicações, banners, posters e exposições. Guido também é autor do Livro Lotado!! - Os Segredos das Pousadas de Sucesso Contato e mais informações: www.fotosincriveis.com.br